" Quando me ponho a compor frases e rimas, não sou mais eu a pensar, mas a Alma de Poeta que cisma em fazer giros no ar..."


quarta-feira, 30 de novembro de 2011

lenda de natal

 
A LENDA DAS VELAS DE NATAL

Uma lenda antiga, austríaca, nos fala de um
pobre sapateiro que vivia na encruzilhada de
um caminho, nos arrebaldes de uma cidade.

Pensando em ajudar os viajantes que à noite
passavam por ali, mantinha, na janela de sua
casa, uma vela acesa todas as noites.

Vivia só, mas se sentia como
a criatura mais feliz daquele lugar.

Veio uma grande guerra e os jovens tiveram
que partir para o campo de luta.

Sem braços fortes para o trabalho, a cidade
foi ficando cada vez mais pobre.

Mesmo assim, lá estava a velinha do sapateiro
todas as noites.

- Quem sabe, pensavam, é aquela velinha acesa,
o segredo da felicidade desse homem.

Resolveram, então, imitá-lo.
Todos acenderam naquela noite a sua vela.

Era véspera de Natal, e, em todas as casas,
havia uma vela acesa na janela.

À meia-noite, os sinos das igrejas começaram a
tocar, anunciando a boa notícia:
a guerra terminara!

- Um milagre! diziam todos.

É o milagre das velas acesas!

Assim, todos os anos acendiam velas na
véspera de Natal...

E o costume se espalhou...

E se me tivessem aprisionado todas as palavras?

Eu aproveitaria esse tempo de reclusão, em que teria uma intimidade forçada com as palavras aprisionadoras e as estudaria profundamente a fim de entender sua dinâmica e poder utilizá-las em uma trama e construir um novo romance, em que revelaria uma face de mim que eu ainda desconhecia, o que seria deveras libertador.
Bel

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A alma...


               A alma da Mulher que Escreveu a Bíblia.
              


Setecentas eram as esposas.
Uma só, a feia,
trazia estampado na cara o dom da redenção
de todas as mulheres.
Um talento,
o dom de decifrar signos,
a retiravam da clausura
da ignorância.
A feiúra,
mais que um defeito,
era seu trunfo.
Por detrás dos muros de Jerusalém,
uma mulher contou uma história
vivida por muitos,
e fez sua estória,
galgou degraus
reservados a poucos.
Todas as riquezas do rei Salomão
foram postas a seus pés.
Triunfante,
escolheu a liberdade,
o caminho do amor verdadeiro,
ou apenas uma caverna
e muita sacanagem.

Bel Plá

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Me dá a mão...


Me dá a mão, vamos sair pra ver o sol!

Eu tava triste
Tristinho!
Mais sem graça
Que a top-model magrela
Na passarela
Eu tava só
Sozinho!
Mais solitário
Que um paulistano
Que um canastrão
Na hora que cai o pano
Tava mais bôbo
Que banda de rock
Que um palhaço
Do circo Vostok...
Mas ontem
Eu recebi um Telegrama
Era você de Aracaju
Ou do Alabama
Dizendo:
Nêgo sinta-se feliz
Porque no mundo
Tem alguém que diz:
Que muito te ama!
Que tanto te ama!
Que muito muito te ama,
que tanto te ama!...
Por isso hoje eu acordei
Com uma vontade danada
De mandar flores ao delegado
De bater na porta do vizinho
E desejar bom dia
De beijar o português
Da padaria...
(Telegrama- Zeca Baleiro)


terça-feira, 15 de novembro de 2011

Essência da poesia

"De que é feita a poesia? De alguma substância imaterial e indefinível que nos arrebata , vem de um universo onde muitas palavras audíveis ainda nem foram criadas, e nos expõe de uma forma que é impossível controlar, ganha forma, e meio que se desvirtua, de tão inadaptável que é, cria laços, rompe barreiras, de tão intensa que é, a poesia é o amor manifestado em versos, num pulsar tão fremente como um coração apaixonado e ao mesmo tempo tão calmo como é o som da nossa alma quando está em paz." Bel

domingo, 13 de novembro de 2011

Saudade




Como um vulto no escuro,
ela chega em silêncio,
tranquila, como se não fosse
triste...
sedosa, como se não fosse
fria...
Tal qual uma mulher,
ela chega de repente,
manhosa...
cheirosa...
como se não fosse áspera.
Imitando os acordes de um violino,
o esplendor das flores,
a maciez das plumas...
ela chega palpitante,
sussurrante...
como se ouvi-la,
vê-la,
e senti-la,
nâo provocasse espanto.
Ela chega com a ternura das crianças,
sorrindo,
acariciando,
beijando...
e quem está sozinho,
recebe-a,
como se esta vinda
não provocasse dores.
Bel

sábado, 12 de novembro de 2011

poesia da minha infância


Leilão de jardim
Cecilia Meireles

Quem me compra um jardim
com flores?

borboletas de muitas
cores,

lavadeiras e
passarinhos,

ovos verdes e azuis
nos ninhos?

Quem me compra este
caracol?

Quem me compra um raio
de sol?

Um lagarto entre o muro
e a hera,

Uma estátua da
Primavera?

Quem me compra este
formigueiro?

E este sapo que é
jardineiro?

E a cigarra e a sua
canção?

E o grilinho dentro
do chão?

(Este é o meu leilão!)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

No fundo dos teus olhos...

"Ela ficava lendo as poesias e imaginava como seria esse homem que escrevia tantas coisas lindas sobre o amor, sobre a mulher, fazia dele a imagem de um príncipe, com toda a delicadeza que um homem apaixonado pode ter por sua amada. Delicado, dedicado e romântico. Lhe traria rosas todos os dias, todos os homens apaixonados trazem rosas, andaria num cavalo branco, pois o cavalo dos enamorados é se...mpre branco e tem rédeas decoradas com fios de ouro. E falaria macio, como todos os príncipes dos contos de fadas falam. E a chamaria de princesa, mas ele certamente não existiria. Pois os príncipes só existem dentro dos livros de contos de fadas, não são como gente, não comem, não arrotam, e não precisam dormir nunca. Eles só dormem quando a gente fecha o livro. Por isso ela mantinha sempre um livro aberto, com alguma leitura em curso. Para dar vida àqueles personagens vindos do mundo dos sonhos, mantê-los acordados e ocupados em lhe trazer colorido aos pensamentos, esperança à alma ainda debutante no baile dos relacionamentos amorosos."
Bel Plá- livro "No Fundo dos Teus Olhos"

sábado, 5 de novembro de 2011

A função da arte/1


"Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que
descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas
altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia,
depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a
imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao
pai: — Me ajuda a olhar!"
Eduardo Galeano "Livro dos Abraços"