" Quando me ponho a compor frases e rimas, não sou mais eu a pensar, mas a Alma de Poeta que cisma em fazer giros no ar..."


domingo, 17 de junho de 2012

Crônica

COZINHANDO COM A MINHA FILHA

      Era um dia que parecia igual aos outros. Talvez até fosse ser mais chato que muitos. Uma pequena melancolia ... Eu nem sabia o que ia fazer pro almoço... Ela apareceu e começamos a conversar. E disse que ía fazer macarrão... Não sei por que, mas de repente me deu vontade de fazer também.
      Tem gente que, quando está melancólica, melhora fazendo umas compras. Eu conheço o efeito psicológico que faz pegar uma faca e picar uma cebola. E montar todo aquele ritual de quem está preparando uma obra de arte. Falta espaço pra tanta coisa que a gente vai espalhando, tigelinhas, especiarias, cascas de vegetais...
      Enquanto a massa cozinhava, começamos a preparar o molho. Fazer um molho é como compor uma música. Tem o barulhinho da faca na tábua, da cebola fritando na panela, a colher de pau esfregando no fundo enquanto se acrescenta pinguinhos de água fervendo para encorpar. Mas é mais do que isso, a gente entra num compasso ritmado, dança ao redor do fogão, e à medida que o sabor vai apurando, vai liberando notas no ar. Me sinto como se levitasse junto com o vapor que sai pelo cantinho da tampa.
      Como ela terminou primeiro, exibia orgulhosa o conteúdo vermelhinho na panela. Que me aguardasse, o meu não ia ficar atrás, o fato é que observar o resultado final do prato dela me dava mais água na boca. Chegava a sentir o cheirinho que vinha de seu fogão. Uma ria da outra quando caía algum utensílio no chão ou quando a outra queimava o dedo no vapor. Ela então borrifou o queijo ralado por cima e foi almoçar, enquanto eu dava os últimos retoques na minha iguaria.
      Incrível como aquele dia tomou outro rumo, adquiriu outro colorido, fazia tempos que a gente não fazia nada juntas. E a cozinha havia nos mantido por um bom tempo ali, ligadinhas, num mesmo compasso. Nosso macarrão com molho aqueceu nosso dia. Do outro lado da web cam, a imagem da minha filha comendo seu prato de macarrão fez com que, ao menos naquele dia, a distância parecesse bem menor, quase inexistente, só dois passos entre o balcão da pia e a bancada da outra parede onde coloco o laptop quando vou cozinhar.

Bel Plá.