" Quando me ponho a compor frases e rimas, não sou mais eu a pensar, mas a Alma de Poeta que cisma em fazer giros no ar..."


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Minhas saudades




Lá por entre as coxilhas

moram as minhas saudades.


Frágeis como as nuvens


que passam,


densas como o arvoredo

que balança com o vento,

imponente.

Livres para voar,

lançam-se nas montanhas

e alcançam o infinito.

Minhas saudades não choram...

(...)

silenciosas,

oram,

repousam,

no seu lugar de paz.


Bel Plá-

terça-feira, 23 de outubro de 2012

imagem

OUTUBRO ROSA

Outubro rosa, na luta contra o câncer de mama.
Imagem cedida por Universitário Rugby Santa Maria 

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Aprendizados

Se a noite é escura,
Se a pedra é dura,
Nem quero pensar.
Sei que chega a alvorada,
E vou pegar a estrada.
Aprendi a caminhar!
Bel Plá (sexteto)

domingo, 17 de junho de 2012

Crônica

COZINHANDO COM A MINHA FILHA

      Era um dia que parecia igual aos outros. Talvez até fosse ser mais chato que muitos. Uma pequena melancolia ... Eu nem sabia o que ia fazer pro almoço... Ela apareceu e começamos a conversar. E disse que ía fazer macarrão... Não sei por que, mas de repente me deu vontade de fazer também.
      Tem gente que, quando está melancólica, melhora fazendo umas compras. Eu conheço o efeito psicológico que faz pegar uma faca e picar uma cebola. E montar todo aquele ritual de quem está preparando uma obra de arte. Falta espaço pra tanta coisa que a gente vai espalhando, tigelinhas, especiarias, cascas de vegetais...
      Enquanto a massa cozinhava, começamos a preparar o molho. Fazer um molho é como compor uma música. Tem o barulhinho da faca na tábua, da cebola fritando na panela, a colher de pau esfregando no fundo enquanto se acrescenta pinguinhos de água fervendo para encorpar. Mas é mais do que isso, a gente entra num compasso ritmado, dança ao redor do fogão, e à medida que o sabor vai apurando, vai liberando notas no ar. Me sinto como se levitasse junto com o vapor que sai pelo cantinho da tampa.
      Como ela terminou primeiro, exibia orgulhosa o conteúdo vermelhinho na panela. Que me aguardasse, o meu não ia ficar atrás, o fato é que observar o resultado final do prato dela me dava mais água na boca. Chegava a sentir o cheirinho que vinha de seu fogão. Uma ria da outra quando caía algum utensílio no chão ou quando a outra queimava o dedo no vapor. Ela então borrifou o queijo ralado por cima e foi almoçar, enquanto eu dava os últimos retoques na minha iguaria.
      Incrível como aquele dia tomou outro rumo, adquiriu outro colorido, fazia tempos que a gente não fazia nada juntas. E a cozinha havia nos mantido por um bom tempo ali, ligadinhas, num mesmo compasso. Nosso macarrão com molho aqueceu nosso dia. Do outro lado da web cam, a imagem da minha filha comendo seu prato de macarrão fez com que, ao menos naquele dia, a distância parecesse bem menor, quase inexistente, só dois passos entre o balcão da pia e a bancada da outra parede onde coloco o laptop quando vou cozinhar.

Bel Plá.

sábado, 28 de abril de 2012

Poesia




       FALTA

Comi a maçã,

mas não me saciei:

falta um pedaço.

Me tapei,

mas não me aqueci:

falta um pedaço.

Ouvi a canção,

mas não dancei:

falta um pedaço.

Fiquei com fome,

frio,

e sem inspiração:

faltava um pedaço...

domingo, 15 de abril de 2012

Papos de cozinha


"Dos afagos que um ser humano pode fazer ao outro, dar de comer é o mais genuíno."


Meu novo blog, com receitas pessoais e muitas histórias...
COZINHA ARTEIRA

"Cozinha não é só lugar de cozinhar, é lugar de estar. E de muito papo. Por estas bandas, regado a um bom chimarrão.

Mas também tem caipirinha, tem temperos, sobremesa... bom... tem muito mais.

Vamos contando coisas que rolam pelas cozinhas da vida, daqui, de acolá, de bem mais acolá. Todo mundo tem histórias pra contar na cozinha. Tem até gente que escreve em livro...
http://cozinhaarteira.blogspot.com.br/p/papos-de-cozinha.html


                      

sábado, 7 de abril de 2012

pensamento

    
 "Silenciar é aquietar as vozes do mundo exterior, muitas vezes gritantes e apegadas ao mundo material e permitir que a voz do nosso interior, que é divina, fale mais alto e nos conduza ao caminho correto." Bel Plá

quinta-feira, 29 de março de 2012

A casa de Rubem Alves- Jardins

      "Menino, os jardins eram o lugar de minha maior felicidade. Dentro da casa os adultos estavam sempre vigiando: “Não mexa aí, não faça isso, não faça aquilo...“ O Paraíso foi perdido quando Adão e Eva começaram a se vigiar. (...)
      Havia uma jabuticabeira que eu considerava minha, em especial. Fiz um rego à sua volta para que ela bebesse água todo dia. Jabuticabeiras regadas sempre florescem e frutificam várias vezes por ano. Na ocasião da florada era uma festa. O perfume das suas flores brancas é inesquecível. E vinham milhares de abelhas. No pé de nêspera eu fiz um balanço. Já disse que balançar é o melhor remédio para depressão. Quem balança vira criança de novo. Razão por que eu acho um crime que, nas praças públicas, só haja balancinhos para crianças pequenas. Há de haver balanços grandes para os grandes! Já imaginaram o pai e a mãe, o avô e a avó, balançando? Riram? Absurdo? Entendo. Vocês estão velhos. Têm medo do ridículo. Seu sonho fundamental está enterrado debaixo do cimento. Eu já sou avô e me rejuvenesço balançando até tocar a ponta do pé na folha do caquizeiro onde meu balanço está amarrado!"
Rubem Alves (Correio Popular, Caderno C, 01/07/2001.)

segunda-feira, 19 de março de 2012

crônica

Considerações sobre o silêncio.

  Minha amiga suíça voltou de Tóquio nesta madrugada. Ela é comissária de bordo e viaja pelo mundo, entra em contato com muitas culturas diferentes. Ela disse que ficou impressionada com a viagem de trem que fizera por duas horas. As pessoas em completo silêncio, ninguém falava.....
Quer ler mais? clique no link abaixo, da página de crônicas de minha autoria. 
http://belalmadepoeta.blogspot.com.br/p/cronicas.html

quarta-feira, 14 de março de 2012

14 de março- Dia da Poesia, Dia de Castro Alves


"De que é feita a poesia? De alguma substância imaterial e indefinível que nos arrebata , vem de um universo onde muitas palavras audíveis ainda nem foram criadas, e nos expõe de uma forma que é impossível controlar, ganha forma, e meio que se desvirtua, de tão inadaptável que é, cria laços, rompe barreiras, de tão intensa que é, a poesia é o amor manifestado em versos, num pulsar tão fremente como um coração apaixonado e ao mesmo tempo tão calmo como é o som da nossa alma quando está em paz."

Esta prosa poética está na minha página Alma de Poeta do facebook
http://www.facebook.com/pages/Alma-de-Poeta/207536142626355
Visite e veja outras composições. Abraço!

domingo, 11 de março de 2012

artigo


Vivendo e aprendendo


Viver é uma experiência que acontece espontaneamente, ninguém pensa que está vivendo ou que os próximos instantes serão exatamente desta ou daquela forma. Não se decide que agora está na hora de respirar ou que em um determinado local do corpo está precisando de uma dose maior de um determinado nutriente. A Vida que anima nosso organismo se encarrega dessa distribuição e direcionamento das forças vitais.
Nesta fantástica experiência que supera qualquer entendimento, temos uma parcela de compromisso com o fazer acontecer, e isto nos é assegurado pelo livre-arbítrio. Somos seres dotados de um nível de consciência bastante elevado, e quando esta está um tanto quanto embotada, ficamos envolvidos num torpor que nos dificulta uma interpretação correta da realidade. E passamos a aceitar uma “sobrevida”, atribuindo possíveis infortúnios à ação invasiva dos outros ou à “vontade de Deus”, de uma forma passiva e relativamente cômoda.
Por isso precisamos sempre de treinamentos diários, para voltar a nos maravilharmos com as coisas que viraram banais, como olhar fundo nos olhos dos filhos, observar a maravilha natural que é uma gota de orvalho, prestar atenção nas pequenas gentilezas que nos fazem. Tudo isso passa varrido se nossa mente estiver sempre atribulada, só habituada no "ir atrás", correr atrás da máquina.
Pode parecer que tenhamos muitos outros objetivos importantes na vida, mas qualquer um que não seja manifestar nosso Deus interior é secundário, é consequência. Somos Vida, somos Amor, somos Sabedoria. Somos seres divinos, e, comportando-nos como tal, todo o mais que desejarmos vem em acréscimo, já nos dizia o grande mestre Jesus. Nossas experiências materiais são para o aprimoramento da nossa alma, que precisa se polir com o atrito resultante dessas experiências, especialmente vividas com outras pessoas.
Mas o esteio da vida é o Amor, e ele deve ser vivido, em primeiro lugar em nosso lar. Amar é acreditar que o outro é Bom por natureza, que pode fazer coisas boas e cada vez melhores. É apostar no filho, incentivar quando ele acha que não tem capacidade, elogiar quando ele acertar, dar um tempo útil ao filho, mesmo que por pouco tempó, que seja verdadeiramente com ele, no futuro ele vai precisar dessas horas que passou com o pai ou com a mãe como incentivo à coragem e autoconfiança. Quando o mundo lhe disser: -Não consegues, de dentro vai vir a certeza: -Vai, que dá! eu acredito em ti!
Bel Plá

quinta-feira, 8 de março de 2012

A todas as mulheres...

QUEM É VOCÊ, MULHER?

Quem é você, mulher, que tem em suas mãos o poder de toda transformação? quem é você, mulher que faz de um pequeno lugar um ninho de amor e afeição? Quem é você, mulher, que abriga dentro de si o calor do afeto, a força do universo e a mansidão do amor? Quem é você, mulher, que é capaz de sorrir, quando sente vontade de chorar, que é capaz de calar, quando quer falar; que é capaz de rezar, quando custa a crer? Quem é você mulher, que acredita no amor, quando à sua volta reina desamor; que é capaz de amar, quando todos ensinem a odiar; que busca sem trégua a verdade, num mundo de mil mentiras, que é capaz de perdoar, quando todos querem condenar? Quem é você, mulher, que afaga, que critica, que repreende, que educa, que defende, que incentiva, que corrige e que ensina a orar? Você repete sim à verdade, você repete sim à paz, você repete sim à coragem, ao carinho, à fé e ao amor, porque você é carinho, é dedicação, é fé, é união, é coragem, é amor e, sobretudo, porque você é mulher!"
Autor: ( Marinês N. G. Prado )

quinta-feira, 1 de março de 2012

imagem- felicidade clandestina


Felicidade Clandestina- conto de Clarice Lispector

       Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
       Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade".
      Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
      Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
      Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. 
      Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu nao vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
      No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
      Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte"com ela ia se repetir com meu coração batendo.   
      E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
      Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. As vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
      Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
      E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
      Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
      Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
       As vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
      Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

O HOMEM NU - conto de Fernando Sabino

Ao acordar, disse para a mulher:
— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa.  Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.
— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.
— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém.   Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.
Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão.  Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.
Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:
— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa.
Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.
Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares...  Desta vez, era o homem da televisão!
Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:
— Maria, por favor! Sou eu!
Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão.
Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.
— Ah, isso é que não!  — fez o homem nu, sobressaltado.
E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!
— Isso é que não — repetiu, furioso.
Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar.  Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador.  Antes de mais nada: "Emergência: parar". Muito bem. E agora? Iria subir ou descer?  Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.
— Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si.
Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:
— Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso.  — Imagine que eu...
A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:
— Valha-me Deus! O padeiro está nu!
E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:
— Tem um homem pelado aqui na porta!
Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:
— É um tarado!
— Olha, que horror!
— Não olha não! Já pra dentro, minha filha!
Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.
— Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir.
Não era: era o cobrador da televisão.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Happy Valentine's Day

 Valentine's Day- Dia dos Namorados

      O Dia dos Namorados ou Dia de São Valentim é uma data especial e comemorativa na qual se celebra a união amorosa entre casais sendo comum a troca de cartões e presentes com simbolismo de mesmo intuito, tais como as tradicionais caixas de bombons. No Brasil, a data é comemorada no dia 12 de junho. Em Portugal também acontecia o mesmo até há poucos anos, mas atualmente é mais comum a data ser celebrada em 14 de Fevereiro      Continue lendo na página do Mix Cultural...
http://belalmadepoeta.blogspot.com/p/mix-cultural.html

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

eu te olho...


#Eu te olho...
E nesse olhar está contida uma vida inteira.
Como se eu viesse te olhando
Por toda a eternidade.#

Bel Pla

domingo, 22 de janeiro de 2012

Meu dia...

Vestida está, com seu  vestido de sair,
Ó, como sonha essa guria,
São 10 primaveras, quero brigadeiros,
E uma bandeja de salgadinhos.
Quero festejar, hoje é meu dia.

O sorriso aberto, era o que queria,
Mas não aparece,
O que foi do espelho?
Não era seu papel, apenas refletir?
Hoje é meu dia!!

Em vão espera,
No alto da escadaria,
As convidadas, mas apenas chega
Uma tia.
O que foi dos convites?

Mamãe está doente,
Casa vazia.
Não sei preparar uma festa,
Nem convencer as amigas,
Disfarçar alegria,
Nem tem  brigadeiros...

Após o chá com a tia,
É hora de chorar...
Sentada no último degrau
Da escadaria.
A lágrima não sai.
O que foi da emoção?

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Espelhos-poesia



ESPELHOS

Teus olhos
são dois espelhos,
onde os meus,
atrevidos,
teimam em se mirar.
Teus dois espelhos,
e os meus,
quando se fitam,
faíscam,
e se põem a vibrar.
Meus olhos,
nos teus,
se espelham,
e se escondem,
com medo de se quebrar.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Mix cultural- origens dos sobrenomes

Na maioria das línguas indo-europeias, o prenome precede o sobrenome (apelido de família) na forma de designar as pessoas. Em algumas culturas e idiomas (por exemplo em húngaro, vietnamita, chinês, japonês ou coreano), o sobrenome precede o prenome na ordem do nome completo.
      Conhecer a origem dos sobrenomes poderá indicar de onde certa família descende, no que trabalhavam ou conhecer algumas características dos ancestrais dessa família.
... leia mais na página:
http://belalmadepoeta.blogspot.com/p/mix-cultural.html

domingo, 8 de janeiro de 2012

meditações de véspera de Natal

“Silêncio.
A cidade dorme.
Nada mais aqui dorme.
É madrugada,
e a chamada para o primeiro salat
vibra como um sino,
minha alma desperta
e, em silêncio,
medita.
É quase Natal,
nestas terras distantes,
olho o céu
e procuro a estrela.
Basta seguí-la,
este caminho me leva
até um menino.
Ouço a mensagem
que ele me traz.
“Ao sul e ao norte,
por terra e por mar,
não importa a cultura,
são todos irmãos”.”